Comportamento Social na Inglaterra, Séc. XIX (2)
Na publicação passada, abordei a frivolidade com que viviam os aristocratas da Era Vitoriana. Eles possuíam uma vida que aparentava ser boa, mas, indo a fundo, podemos perceber como as relações eram vazias e sem sentido e como era tedioso o cotidiano (especialmente das madames) da classe alta nesse século.
Hora de abordar aquele grupo de pessoas que, nem aparentava, nem tinha a vida boa: a classe baixa...\o/
Hora de abordar aquele grupo de pessoas que, nem aparentava, nem tinha a vida boa: a classe baixa...\o/
Segundo Tópico: A Classe Baixa
A classe baixa era composta por pessoas que se tornaram desempregadas (na área rural) de uma hora para outra e tiveram que migrar para as cidades, além dos próprios habitantes dos centros urbanos. A intensa atividade industrial da Era Vitoriana foi um dos motivos que resultou nessa urbanização, nesse movimento migratório.
Os menos afortunados viviam em cortiços ou em casas abandonadas pela classe alta decadente; não havia água nem boas condições sanitárias (contribuindo para a disseminação de doenças, inclusive), tal como a falta de segurança e a não-existência de escolas contribuía para a má qualidade de vida dessas pessoas.
Nas indústrias, não é novidade para ninguém: as jornadas de trabalho eram realizadas das 5:30 da manhã, podendo ultrapassar as 10:00 da noite. Homens, mulheres e crianças eram aceitos nesses empregos, ainda que mulheres e crianças obtivessem um salário menor, com o mesmo tempo feito por homens. Mesmo para o sexo masculino, o trabalho, além de pesado e estressante, rendia ordenados baixíssimos para os trabalhadores. Nessa época, por conseqüência desse fator, a taxa de alcóolatras e viciados (especialmente em ópio) era grande.
Obviamente, além do trabalho nas fábricas (e também nas minas), havia as profissões exercidas na rua (vendedores, hospedeiros, por exemplo), aquelas que exigiam uma determinada habilidade (carpinteiros, ferreiros,...), ou o trabalho prestado à classe alta (mordomos, faxineiras, motoristas de carruagens...).
As crianças também trabalhavam fora de fábricas; quem nunca topou, por exemplo, com histórias ambientadas no século XIX que continham personagens como os pequenos "matchsellers" (vendedores de fósforos), "flower sellers" (vendedoras de flores), entre outros? Essa, infelizmente, é uma realidade presente nos dias de hoje em países como o nosso, em que o trabalho infantil continua a ser utilizado, e nós continuamos a ver crianças vendendo balas e frutas nos sinais, para não dizer coisas piores, como drogas... No século XIX, existe ainda uma estimativa de que a maioria das prostitutas estava entre 15 e 22 anos de idade, ou seja, garotas extremamente jovens - um problema que persiste no mundo atual, a exploração sexual infantil...
Lembrando que as mulheres ricas não trabalhavam, as de classe inferior, em geral, precisavam de uma ocupação para sustentar a família e a si mesmas. As mulheres de classe média baixa podiam trabalhar em hospedarias e hotéis, ser vendedoras, governantas ou professoras, além de fazer parte de ordens religiosas. As de classe baixa podiam ser empregadas domésticas, costureiras, lavadeiras, trabalhar nas fábricas, minas e fazendas, entre diversas outras pequenas ocupações. Àquelas sem emprego, restava mendigar ou se prostituir. Essas duas últimas atividades eram algumas vezes punidas pela polícia (!), sendo consideradas algo que hoje corresponderia ao "atentado ao pudor". Para as prostitutas, até é compreensível qual o atentado ao pudor por elas "cometido"; mas há casos registrados depedintes que, por ordem das madames da alta sociedade, eram presas por suas atividades!
Também já foi citada a opulência dos vestidos (com armações gigantescas de saia) e dos acessórios das senhoras da sociedade; é claro que esse estilo de vida não correspondia ao da mulher comum de pouco dinheiro. Nós nos acostumamos com a idéia dos vitorianos ricos e suas roupas; mas a realidade dos pobres era bem menos "romântica" e bem mais dura.
A educação era algo muito restrito à população menos favorecida. Ela até existia para algumas crianças, mas, mesmo para essas, era algo básico, sem comparação com o ensino de Gramática Latina e Grega a que os meninos de Eton, por exemplo, tinham acesso. A educação formal para crianças pequenas era dada pela escola dominical (aquela da igreja), quando ela era dada. A maioria das crianças nem chegava a freqüentar esse tipo de local, principalmente por conta do trabalho que tinham que efetuar nas fábricas e minas. Na verdade, um sistema educacional básico só foi criado pelo governo inglês em 1870, mas ainda era dirigido pelas igrejas que antes faziam o trabalho voluntariamente.
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