O governo JK nas páginas da
Manchete
A revista Manchete ajudou
a criar a fama dos anos JK como
"anos dourados" e a tornar o presidente uma figura popular.
"Brasília e Manchete cresceram juntas", disse seu
criador, Adolfo Bloch. Fundada em abril de 1952, a revista valorizava
o aspecto visual, o colorido, a paginação. Nela JK era apresentado como homem
simples, do povo, que transmitia confiança nos destinos do
país. Essa confiança se fazia presente de forma concreta, já que JK era
mostrado como um homem de ação, empreendedor e inovador.
A revista inovou em suas
fotorreportagens, mostrando imagens de impacto geradas pelo governo JK:
estradas, usinas hidroelétricas, fábricas e, principalmente, Brasília. Em 1959,
uma reportagem de Murilo Melo Filho fazia a avaliação dos três anos do governo
JK e falava do presidente como um "plantador de cidade". Murilo Melo
Filho e o fotógrafo Jáder Neves passaram a visitar Brasília toda semana para
acompanhar o andamento das obras.
Manchete dedicou
muitos números à "odisséia do Planalto", além de um número especial
por ocasião da inauguração de Brasília. Essa edição histórica, de 21 de abril
de 1960, teve tiragem de 760 mil exemplares que se esgotaram em 48 horas. Uma
de suas manchetes dizia: "Começa aqui a nova História do Brasil: JK recebe
as chaves da capital". Nessa edição, fartamente ilustrada, aparece a
imagem do sino que anunciou a morte de Tiradentes e que também proclamou a
inauguração de Brasília. A revista relacionava a primeira missa rezada em
Brasília, por ocasião da inauguração de uma capela em 1957, com a Primeira
Missa do Brasil em 1500. Foi no sermão dessa missa de 1957 que D. Carmelo Mota,
cardeal arcebispo de São Paulo, fez referência a uma profecia de D. João Bosco,
que em sonho teria visto a nova capital do país no Planalto Central.
Finalmente, a relação entre o plano piloto da cidade e o sinal da cruz era
realçada pela menção à explicação de Lúcio
Costa: "O plano piloto de Brasília nasceu do gesto primário de quem
assinala um lugar ou dele toma posse: dois eixos cruzando-se em ângulo reto, ou
seja, o próprio sinal da Cruz."
O número especial valorizava o
caráter moderno dos principais edifícios construídos: o Palácio da Alvorada, o
Brasília Palace Hotel, o Supremo Tribunal Federal, o Palácio do Planalto, o
Congresso Nacional e 11 edifícios ministeriais. As reportagens mostravam a
grande festa da inauguração, com missa, cerimônia no Congresso, desfile de candangos
e baile, tudo com a presença de autoridades dos três poderes, representantes de
países estrangeiros, funcionários, candangos e 30 índios carajás vindos da ilha
do Bananal para participar do acontecimento. A frase de JK, em discurso de 2 de
outubro de 1956, era relembrada com destaque: "Deste Planalto Central,
desta solidão que em breve se transformará em cérebro das altas decisões
nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo
esta Alvorada com fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande
destino."
Lúcia Lippi Oliveira
Nenhum comentário:
Postar um comentário