A idéia de que a missão civilizadora sobre as populações não brancas
submetidas aos impérios coloniais era o fardo do homem branco se apoiava largamente
nas teorias raciais que grassavam no campo científico europeu e norte–americano na
virada do século XIX para o século XX. De acordo com Catherine Coquery-Vidrovitch,
foi o naturalista Buffon (1707-1788) o primeiro a introduzir, em sua Histoire Naturelle,
o conceito de raça, ainda que explicasse as variações físicas e de costumes das diversas
populações humanas a partir do clima. De modo geral, no pensamento do século XVIII,
esse tipo de teoria para explicar a diversidade humana se apoiava em três critérios de
diferenciação: o clima, a cultura e a raça. Já no século XIX, principalmente a partir da
publicação da obra de Darwin, A origem das espécies, em 1859, o critério racial passa a
dominar. Esse fenômeno se relaciona com a expansão da conquista imperialista na
segunda metade do século:
“O drama foi que, graças à onda da expansão colonial da segunda parte
do século, a revelação da seleção natural das espécies, que envolve
conquista, dominação e destruição, foi transposta para o curto prazo
pelos sociólogos darwinianos: na selva das lutas entre classes, nações e
raças, tornava-se normal e justificado não só que os vencedores
dominassem os povos inferiores, mas também que os eliminassem em
benefício da sobrevivência da espécie humana a longo prazo.”
O racismo serviu assim como justificativa ideológica para associar o domínio
colonialista, a conquista e subjugação de povos não-europeus com uma missão
civilizadora, ligada aos valores do progresso econômico, do avanço científico, da ordem
política liberal e do cristianismo. Esses eram os valores que a propaganda imperial
alegava serem levados aos nativos da África e da Ásia, selvagens, desorganizados,
atrasados, incapazes de se auto-governarem e pagãos. Eles serviam tanto para legitimar
a “ajuda” dos que se sujeitavam quanto a repressão daqueles que se colocavam contra o
colonialismo.
Adriana Facina
texto adaptado
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