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quinta-feira, 3 de novembro de 2011


Nas cidades surgem Cafés. E o culto ao "ouro verde"

"No começo do século o Café Lamas é um cenáculo de (...) irrequietos boêmios: estudantes, artistas, bancários, rapazes do esporte, do funcionalismo público e do comércio. Funciona dia e noite. Suas portas não se fecham, nem se abrem. De tal sorte que, uma vez, quando se amotina a Escola Militar em 1904, durante a Revolta da Vacina e a notícia corre que, sob o comando do general Travassos, descem os alunos pela.rua da Passagem, caminho do Catete, as portas do estabelecimento, de tanto viverem sem (...) movimento, não podem fechar, perras, imobilizadas nos seus gonzos. E assim é que se manda chamar, para fazer movê-las, um esperto carpinteiro". (Luiz Edmundo.).
Na madrugada carioca, os caminhos de todos os boêmios convergiam, ziguezagueantes e trôpegos, para o Café Lamas. Depois da meia-noite era para ali que avançavam, a passo vacilante, notívagos e intelectuais saídos de outros Cafés famosos, como o Papagaio, o Cascata, o Café Paris e muitos mais.
Nos movimentados Cafés tomava-se de tudo, inclusive café, servido por ágeis e animados garçons, que talvez não tivessem plena consciência de seu papel na complexa estrutura econômica do Brasil, mas cuja função representava o último elo, fumegante, negro e aromático, da ampla cadeia do café.

Financiando, armazenando e vendendo, as Casas Comissárias reinam sobre o café

Contemplando certo edifício em Buenos Aires, Olavo Bilac - então em viagem oficial á Argentina - exclamava em 1910: "Casa querida! Como tu lembras, aqui, no estrangeiro, todas as casas da minha vida". Referia-se à sede do Café Paulista, empresa de comercialização fundada por Octaviano Alves de Lima na capital portenha. Notável propagandista, Alves de Lima conseguira aumentar o consumo do café brasileiro pelos argentinos, divulgando o slogan "Café Paulista (Brasil) - O melhor do mundo". O café era o símbolo do Brasil no exterior.



Entre a fazenda produtora e o consumidor estrangeiro, o café passava por uma série de etapas, mudando várias vezes de mão. Depois de conduzido em lombo de burros ou em carros de boi até a estrada de ferro mais próxima, que passava com freqüência pela própria fazenda, era embarcado em vagões, que desciam para o porto de Santos ou do Rio de Janeiro. Mas não era imediatamente exportado. Fazia, antes, um estágio nos armazéns de alguma Casa Comissária e era então vendido aos exportadores. Os comissários de café - geralmente comerciantes portugueses e brasileiros, ou grandes fazendeiros que diversificavam suas atividades metendo-se no comércio e fundando bancos - financiavam plantações sob hipoteca e por conta da produção a ser vendida. Vendendo o café aos exportadores, os comissários tiveram papel decisivo, particularmente no primeiro período de expansão dessa lavoura (final do século XIX), quando a maior parte dos fazendeiros ainda não se mudara para a cidade e vivia isolada nas casas-grandes de suas fazendas. .
Os comissários cobravam dos fazendeiros comissão pela venda, despesas de armazenamento e juros pelo financiamento da plantação. Houve um momento em que foi muito estreita a relação de dependência pessoal do produtor para com o comissário, tomando-se este uma espécie de conselheiro daquele. "Daí persistir em 1890 o costume de grandes casas comerciais hospedarem, nos seus andares superiores, senhores rurais ou pessoas de suas famílias. Quando em visita ás cidades, era aí ou nas próprias residências dos seus comissários (...) que se instalava essa gente do interior". (Gilberto Freyre.) '.
Entre as mais importantes Casas Comissárias estavam a Prado Chaves, que era também exportadora - chegando a exportar, em 1910, 1,5 milhão de sacas de café-, a Whitalter & Brotero, a Companhia Intermediária de Café de Santos e a Companhia Paulista de Armazéns de Santos, controlada por ingleses.
Embora a presença estrangeira pudesse ser notada entre os comissários, era, porém, no comércio de exportação que mais forte se fazia sentir sua intervenção. Das dez maiores firmas exportadoras, em 1907, apenas uma era brasileira, a Prado Chaves, que ocupava o sétimo lugar. Todas as outras, como a Theodor Wille (alemã) e a Neumann & Gepp (inglesa), pertenciam a estrangeiros. As vendas externas proporcionavam enormes lucros, pois a própria cotação do café era manipulada pelos exportadores, numa época em que as trocas de informações entre os continentes mostravam-se precárias.
Apesar das crises econômicas conjunturais, o consumo mundial de café crescia constantemente. Os lucros dos exportadores, entretanto, não subiam na mesma proporção, pois, entre 1891 e 1900, a exportação de 74 491 000 sacas de café rendeu a cifra de 4691906 contos de réis, enquanto na década seguinte, isto é, entre 1901 e 1910, houve uma queda para 4 179 817 contos de réis no pagamento da exportação de uma quantidade maior de café (130 599 000 sacas).

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